quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O Shaolin do Sertão é como chuva na terra seca

A trama acontece na década de 80, Quando ainda existiam programas de vale tudo e artes marciais estavam bem em alta. Bruce Lee era um deus pra muita gente e ainda é por conta de filmes daquela época. E no Brasil então nem se fala. Bendita foi a da ascensão do VHS no país.
Na cidadezinha de Quixadá, conhecemos o padeiro Aloísio (Edmilson Filho). Aliás, padeiro por circunstância, porque em sua cabeça ele já é um artista marcial como os de seus filmes preferidos. Já na primeira sequência do filme temos um sonho acordado de Aloísio, com direito a estética de filmes setentistas chineses,  em que ele é o herói da história e salva Anésia Shirley (Bruna Hamu). Quando o protagonista volta pra realidade, descobrimos que seu interesse amoroso é  filha de seu patrão (Dedé Santana) e que a moça está prometida para Armandinho (Marcos Veras), que tem roupas, carro e jeito do riquinho filhinho de papai que todos já conhecemos. 

Aloísio é piada na cidade por seu notório amor as artes marciais. Mais ou menos a mesma coisa de quando se tira sarro de um nerd ou algo do tipo.
Uma oportunidade de redenção se apresenta quando Tony Tora Preula, conhecido em todo nordeste como lutador invencível, anuncia que sua turnê de desafios passará por Quixadá.Aloísio se prontifica para defender a honra da cidade, ao mesmo tempo que deseja ser um partido mais valioso para a filha de seu patrão. Mas ele precisava treinar. E como fazer isso? O boato era de que havia um mestre chinês isolado em algum lugar do sertão. Aloísio vai a procura e assim seu "treinamento" começa mestre.
Nesse treinamento percebemos o amor de Halder Gomes ao cinema. Referências aos antigos filmes chineses e também a outros clássicos como“Rocky – Um Lutador”, onde o protagonista também treina para uma luta contra um inimigo muito acima de seu nível, se fazem bem presentes. É meio clichê, talvez, mas é um clichê gostosinho de ver. Dá gosto torcer pro menor num dá?

O carisma do elenco, principalmente do ator Edimilson Filho é um grande ponto forte. Até quem não tem tanta intimidade com a câmera não deixa a peteca cair por conta desse magnetismo e alegria mostrados na tela. Outro ponto importante do filme é a capacidade de humor físico, de caras bocas e expressões de Edmilson. Lembra algo como uma versão cearense de Jim Carrey, mas um pouco mais sutil.
Também tem destaque Marcos Veras, que encarna muito natural o romântico de Aloísio, e também cearense. Não perde o ponto forçando o sotaque, mas o usa aliado ao "espírito" e trejeitos regionais. Esse espírito é inclusive o ponto mais forte do filme pra mim. As gírias, as ofensas, as entonações, o sotaque, as próprias piadas são algo de imersivas. Você tem a sensação de que não são atores imitando um estereótipo mas sim pessoas naturais e reais. Daría pra fazer um dicionário só do número de ofensas "cômicas" e nordestinas do filme.
Infelizmente, nem tudo é acerto. Algumas cenas se estendem demais, dando a impressão de que o diretor não teve coragem de cortar o material só com o mais importante. Tempo demais em um filme de comédia como esse pode ser mortal. É só você lembrar daquela vez que você começou a contar uma piada e esqueceu no meio do caminho. Mesmo que você enrole um pouco e depois lembre do final da história, o interesse e o timing já passaram. Outras cenas também sofrem por terem sido inseridas sem nenhum contexto. São cenas que tem sempre uma piadinha, mas por não terem vindo do nada e sem contexto acabam por não envolver e você percebe o final antes mesmo de chegar, tornando a sketch bastante cansativa. A cena da luta final também é bastante longa e tem-se a impressão que poderia ser pelo menos 2 minutos menor

Apesar de não ser perfeito, “O Shaolin do Sertão” se destaca por ser um respiro diferente da comédia do eixo Rio-São Paulo e também por ser uma homenagem ao gênero de artes marciais, que já foi tão popular no país e que hoje anda bastante esquecido Seu elenco carismático também ajuda demais e o tempero regional dão o último toque. Recomendamos e damos 3,5 cinestrelas pro longa. 3,8 se você assim como eu se identifica com os trejeitos do povo nordestino :)

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