Acredito que todos que gostam de cinema têm um filme divisor de águas em suas vidas. Nossa cabeça vai para o teto e ficamos obcecados por todos os aspectos da película. A narrativa é genial, os atores são todos dignos de Oscar, a fotografia é excelente... Nada no filme é ruim.
Foi isso que aconteceu comigo quando conheci The Matrix...
Assisti o filme bem depois do lançamento, já que infelizmente minha família não tinha o hábito de ir ao cinema com frequência e alugar um filme era coisa de 1 vez por mês. Já tinha noção de que a estória do escolhido tinha sido um puta sucesso e que os efeitos especiais eram magníficos e tudessas coisas que escutei naquela famosa divulgação boca-a-boca, mas nenhum elogio ou hype que botavam na época me prepararam para a experiência que eu tive com a obra-prima dos irmãos Wachowski.
Enfim.
O protagonista do filme é Thomas Anderson (Keanu Reeves), programador de dia, mas à noite é conhecido com Neo, um dos principais hacker dos EUA. Thomas sofre com pesadelos na maioria das noites, além de sentir que existe algo de estranho no mundo ao seu redor. Esse sentimento de deslocamento, algo que muita gente sente, é o que leva Neo a buscar por Morpheus (Laurence Fishburn). Morpheus era tido como um terrorista procurado, mas Neo acreditava que ele pudesse resolver esse deslocamento que sentia e por intermédio de Trinity (Carrie-Anne Moss) Thomas consegue se encontrar com o homem que viria a ser o seu mentor.
É neste momento que acontece a famosa cena das duas pílulas. O escolhido tem que escolher entre a pílula azul e se conformar com a mentira fácil e confortável que é sua vida, ou a pílula vermelha que simbolizava que ele queria saber a verdade nua, crua e cruel.
Não vou me alongar mais na estória do filme, pois, ou você já assistiu o filme ou você nem deveria estar lendo isso aqui. Vá assistir o filme, goste dele e depois volte aqui para que eu possa dividir minha interweb com você.
Imagine como um pequeno nerd em formação se sentiu com aquele mundo novo que lhe era apresentado. Fiquei maluco com todas as referências à ficção científica, a religiosidade presente no mito messiânico criado ao redor de um cara que a pouco tempo era um hackerzinho trancado em seu quarto. Cara, quando eu descobri que Morpheus era uma referência às avessas ao deus grego do sono... e que ao invés de levar Neo para este mundo, Morpheus o traz de volta à um mundo destruído, cínico e sem esperança.
Por causa desta filme que eu realmente comecei a me interessar por cinema e um pouquinho de filosofia. Talvez, senão fosse por Matrix, eu nunca chegasse a conhecer coisas como "O Mito da Caverna" de Platão, ou mais provavelmente eu conheceria da maneira boçal que ensinam filosofia na maioria das escolas públicas desse nosso Brasil e apenas decoraria os aspectos mais importantes para vomitar na prova em que eu tiraria dez, mas não teria aprendido nada.
Hoje, depois de ver mais outros trocentos filmes clássicos e importantes para a industria do cinema, eu vejo que Matrix não é tão à frente do seu tempo como eu pensei. Ele não é nem de longe tão importante para a sétima arte quanto decretei naquela época menos versada na cinematografia da minha vida, mas, pra mim, é o filme mais importante. É o filme que me inspirou o amor ao cinema.
Enfim, esse texto já está enorme então vou termina-lo apenas agradecendo aos irmãos Wachowski por terem realizado aquele projeto cheio de referências estranhas e roupas de couro. Esse filme é o filme da minha vida.