O espectador é apresentado à proposta de escolher já na primeira cena, quando decide entre qual dos cereais será o café da manhã de Stefan, seu "avatar" na trama. A escolha não tem repercussão na história, mas apresenta o mecanismo que o episódio usa para definir qual storyline será usada. Stefan está se preparando para uma entrevista de emprego em uma empresa de games para poder dar vida ao seu projeto: um jogo de computador em que o jogador deve escolher qual a ação do personagem em momentos chave da história. Metalinguagemzinha da nossa Netflix.


No decorrer da história acompanhamos Stefan ter maior ou menor sucesso no lançamento de seu game, de acordo com as escolhas que fazemos, enquanto também assistimos a saúde mental do garoto degringolar cada vez mais. Podemos chegar a resultados assustadores em alguns dos possíveis finais. Infelizmente, ficar emperrado em alguns "loops" se fizermos a escolha errada é comum, obrigando-nos a assistir tudo de novo para poder avançar na história. Ponto bastante negativo.
No geral, podemos dizer que a(s) narrativa(s) do filme interativo em si são uma diversão que se pinta de cabeçuda sem necessariamente ser. Não tem a profundidade necessária pra isso. A maior parte da trama gira em torno daquela filosofia barata e teoria da conspiração que adoramos na nossa fase mais "radical" da adolescência, mas que perde o sentido depois que chegamos a idade adulta. Cenas de ação sem muito sentido como na luta contra a psicóloga, são aquele tipo de coisa "massavéi" que sabemos que é ruim, apesar de gostarmos escondido. É bom, mas fica aquele gosto de que poderia ter sido TÃO MELHOR.
A novidade de verdade aqui não está em ser uma obra com vários finais possíveis de acordo com suas ações. Os videogames já fazem isso (e melhor) há tempos. No mesmo modelo de "escolha o que seu personagem faz nessa situação" games como os Walking Dead da produtora TellTale ou Heavy Rain da Quantic Dream já existem. Até mesmo os livros aventura, como mostrados no próprio episódio, já existem há anos. A novidade mesmo está em trazer isso para o grande público, pro mainstream.
Mostrar pro público geral uma nova forma de entretenimento fora do padrão.
:no_upscale()/cdn.vox-cdn.com/uploads/chorus_asset/file/13654504/Screen_Shot_2018_12_28_at_10.56.06_AM.png)

Há de se considerar também o big data que a empresa ganhou com essa brincadeira. Enquanto eu e você escolhemos como Stefan vai reagir às situações de sua vida, a empresa entende ainda melhor o que seu público espera de um produto de entretenimento. Esses dados são usados para criar novos produtos que se adequem aos resultados adquiridos com a pesquisa em forma de filme interativo. Isso é óbvio, mas ao mesmo tempo é uma situação digna de exclamar o cliché "isso é muito Blek Miru, meu".
Estou ansioso para ver o que vem por aí na quinta temporada de Black Mirror e o que a Netflix vai fazer com todo esse conhecimento que ela arrancou sobre nós. Pra mim Black Mirror é uma boa série que já foi ótima, mas o ritmo de produção maior pós Era Netflix dificilmente permitirá um retorno à qualidade de outrora. Mas podemos dizer que ela sabe e muito bem agradar seu público.
E você achou o que sobre Bandersnatch?
Nenhum comentário:
Postar um comentário